quarta-feira, 16 de março de 2011


“Deixe a vida exprimir-se sem disfarce”. Eis um verso de um soneto que me levou a uma intensa reflexão sobre o que é viver de fato. Será que vivemos? É óbvio que não me refiro à vida biológica, faço menção à vida que nos satisfaz, aquela que desejamos ter; também não apelo, aqui, para os devaneios milionários, fantasias impossíveis, falo de tudo que está ao nosso alcance, no entanto distante da compreensão de algumas pessoas, que por capricho das circunstâncias, surgem em nossas vidas.
Ora, se há impedimentos para a vida sonhada, ela não está se exprimindo, ao contrário, está se reprimindo e, por isso, transforma-se apenas sobrevivência, um viver por viver, um fingimento capaz de convencer a todos, exceto a nós, tristes viventes racionais.
Noto a sobrevivência forçada em vários aspectos da existência das pessoas, seja no trabalho, no amor, nas relações de amizade; tudo isso me joga ao encontro de um brutal pessimismo, pois assumir a vida que se deseja e abrir mão de um lugar seguro, da aprovação social é algo que pouquíssimos corajosos, considerados excêntricos, experimentam, pagam o preço por viver de fato, independente sucesso ou insucesso da opção. O maior deleite, talvez seja o peso que se tira das costas ao tomar as rédeas da própria vida, isso é liberdade, é puro Existencialismo, tudo, no mais, é assassínio da satisfaçao.
            Reflexões à parte, leiam o soneto na íntegra.

Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

2 comentários:

Fernanda Pantoja disse...

Posso te deixar um poema de uma pessoa que gosto muito? acho que sim, né? Logo te mostrarei os meus!

OS VERSOS QUE TE FIZ

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolências de veludos caros,
São como sedas brancas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E, nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Florbela Espanca

Beijão

Francisco e Suas Ideias disse...

O soneto que acompanha a reflexão é de autoria do português Branquinho da Fonseca.