segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Refletindo sobre o comportamento político dos adolescentes, senti enorme nostalgia dessa época; não quero, contudo, dizer que a minha geração era melhor, mais educada e tudo mais; ouvia isso das pessoas que cresceram em algumas décadas antes de mim e considerava-me o monstro da alienação, não percebia que cada época tem suas peculiaridades, não há "ranking" entre as gerações, pois cada uma reflete o momento histórico ao qual está inserida. Acusar os jovens de desinformados, indiferentes com a realidade é negar o contexto multimídia, os estímulos meramente visuais e o fato das ditaduras terem "acabado", o que torna desnecessária a luta pela "democracia", somado a tudo isso, ainda há o governo da antiga esquerda, dos ditos socialistas, hoje completamente inseridos no neoliberalismo.
Enfim, esses fatos, inapelávelmente, refletiam na arte, sobretudo, na música, responsável por dar voz àqueles que externavam os anseios dos jovens. Nos anos 80, bandas como 'Ratos de Porão', Calibre 38, Garotos Podres e outras eram a voz do jovem pobre das grandes cidades, daqueles que não tinham acesso aos templos do capitalismo (shopping); vale lembrar a crescente inflação que nos assolava e a consequente queda do poder de compra do salário; em outras palavras, quem era pobre, era-o verdadeiramente.
As pessoas com trinta anos hoje concebiam a política a partir das artes, eis o início da comparação entre os adolescentes de 90 e os da primeira década do séc.XXI. Lembro que em 1990, com 16 anos, era uma espécie de "office boy", recebia um salário mínimo e equilibrava-me para me manter; considerava-me, em função disso, comunista e minha maior diversão era ir a shows de bandas punks, comprar LP's e pichar os ícones da burguesia, cujo principal alvo era o Mc donald's mais próximo. Dizíamos punks, andávamos com roupas extravagantes a fim de escandalizar a parcela tradicional da sociedade, fazíamos isso porque acreditávamos no poder de mudança, achávamos que trocando os preços daquilo que comprávamos pelo mais barato, execrando os fãs de Bon Jovi e Poison estaríamos de alguma forma protestando contra o capitalismo, responsável pelo nosso salário miserável, pela dificuldade de acesso à educação de qualidade, à saúde, pela violência, responsável, ainda, pela televisão, a porta-voz da elite.
Pertencíamos a uma "tribo" por um ideal, não queríamos fazer poses para fotos, ficar parecidos com os astros da música; tínhamos em nossas ações a utopia de um governo justo. Recordo-me como éramos interados e preocupados com os candidatos à presidência. Chorei quando o Lula foi derrotado por Collor em 89; nunca havíamos visto um governo de esquerda, o ex-operário era a esperança de que íamos ascender ao topo, mudar a realidade capitalista, acabar com a burguesia, como clamava Cazuza em sua canção, entendíamos perfeitamente o refrão "A burguesia fede/ a burguesia quer ficar rica/ enquanto houver burguesia, não vai haver poesia."
As tribos ainda existem hoje, mas os ideais foram substituídos por um egocentrismo sem limites em que as frases feitas e a superficiliade imperam quase sem obstáculos; dizem-se punks, mas a única preocupação é o estilo, a roupa e os acessórios, tanto faz quem vencer as eleições, o importante é participar de um "reallity show", ganhar algum dinheiro e exibir-se na internet, na escola, na rua, sem se importar com o que é, apenas em como está. A essência das coisas foi suplantada pela forma. A utopia morreu, pois a esquerda se fez governo, a inflação está controlada, o pobre tem crédito, não há proibições e as bandas continuam representando a voz do jovem colorido, autista por opção, sensível a o limite da debilidade, o jovem que é fruto das prosperidade, das falsas emoções, do coma da consciência. No entanto, o resultado dessa letargia mental pode representar um retrocesso em tudo que foi conquistado, porque quando o presente basta, o ideal se torna desnecessário e a política se transforma em coisa de velho, a porta se abre para novas ditaduras... Tenho saudade das minhas tribos.

domingo, 17 de outubro de 2010

Nos contos de fada
nunca fui o príncipe,
o papel de sapo não me abala.
Anti-herói congênito,
não me arrependo
da ontologia comum a mim,
sou assim, um ir sem fim,
contraste do padrão,
violador do belo, do apreciável,
a crueza humana que me livra
de um mundo que a muitos engana,
sou a gota de sangue,
o desejo proibido dos conservadores,
a dor da alma de quem ama
o que não pode.
Sou apenas EU,
sem invólucro,
o rumo certo do sul ao norte,
o caminho que leva a mim, em mim, por mim...
Por fim, sou a meta dos meus ideais.

sábado, 21 de agosto de 2010

Há um lado no ser humano que exige a crueza dos atos, talvez seja o instinto sacro perpetuado para toda experiência ter e fazer sentido, por isso a moça quando perde a virgindade sente dor, assim jamais esquecerá a primeira vez, sempre lembrará da dolência mais saborosa que sentira, do momento ímpar, do divisor de águas, do fato único que transforma ingenuidade em sensualidade.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Meu amor está impregnado na febre que une nossos corpos,
nas bocas imorais que compartilham os copos,
na vontade irracional de gozar.

Meu amor não é névoa, é carne,
é humano, é humano de mais
pra ser sagrado, é, pois, profano

E se você espera algo superior do meu amor,
desista, ele morre com a matéria...

Meu amor é víscera, sangue, artéria.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Brigas, só porque quero ser EU.

As discussões de casais quase sempre revelam problemas inexistentes, dúvidas onde a certeza impera e brigas infundadas. A pergunta é: preocupar-se com a lealdade do outro é vaidade ou auto-preservação? Neste momento estou remoendo isso na mente, pois não devemos ter neuroses em relação aos sentimentos alheios, isso não é amor, é egoísmo, é danoso, é falta de controle, pior, é auto-compaixão. Oras, se eu amo, e isso é um fato, meu amor basta, independente de qualquer resquício de infedelidade.
Não devemos exigir do outro aquilo que ele não pode oferecer, isso é respeito, dignidade, generosidade. Encarar o amor, livre das amarras e conceitos impostos exige responsabilidade, autoestima elevada; as pessoas nunca irão correponder aos nossos ideais, crer nisso é romantismo barato, é ingenuidade adolescente. O outro é um mundo diferente, deve ter sua individualidade preservada, deve ser livre... Amor é liberdade, é a capacidade de querer sem exigir. Numa relação não existe, em hipótese alguma, traidor e traído, apenas um laço forte que une duas pessoas por uma razão espiritual, casar não é ser prisioneiro do cônjuge, tampouco esperar dele atitudes mecânicas, padronizadas pela sociedade. Quando as pessoas entenderem que cada ser é único, instável e imprevísivel, o sofrimento dos casais diminuirá.

quinta-feira, 1 de abril de 2010


Eu estame, você pistilo, essa era a nossa realidade durante as horas que passávamos sentados de frente para o mar, desejando falar mil coisas, no entanto o silêncio dava o tom, a comunicação era feita pelo olhar, pelo corpo.
Eu estame, você pistilo,mais que fato, objetivo de vida, de duas vidas que poderiam terminar ali, com os seres responsáveis por elas recebendo a brisa fresca do mar, o carinho mútuo capaz de traduzir o que há de melhor no amor.
Eu estame, você pistilo, eternos prazeres de fim de tarde.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Inconclusões sobre o tempo.

O ontem já não faz o menor sentido, mesmo tendo definido quem sou hoje, ele cumpriu seu papel, desbotou e deixou para o eterno futuro, de cada milésimos de segundo, uma explicação, uma lição ou mesmo uma dúvida.

O passado, esse substantivo de gênero masculino, na verdade é uma fêmea fecunda, por mais que seja improdutivo gera muitos filhos, uns belos outros horríveis e desprezíveis, pois não se pode amar tudo o que se cria, deixe isso para a hipocrisia circundante daqueles incapazes de confessar delitos. Mas por que razão estou a falar dessa verdade imutável e congelada na memória? Seria necessidade de filosofar, tédio ou incoformidade? Não sei, sequer conheço o motivo pelo qual escrevo, só sei que regozijo pelo fato de ser livre para descarregar todas as minhas impressões sobre o mundo, as coisas, as pessoas e as idéias na tela do computador, e tudo isso acaba de fazer parte do que passou, não minhas impressões, elas são camaleônicas e morrerão junto comigo... Talvez, se ninguém passá-las adiante sim. Chega de divagações, voltemos ao tema principal.

O pretérito veio me visitar e trouxe consigo velhas idéias e imagens distorcidas, agora ele é o presente, quer dizer, não mais, já é futuro, voltou a ser passado. Passou? Transformou-se? Futuro novamente?... O tempo não para.

sábado, 27 de março de 2010

O que me passa nesta manhã de sábado?

E como se os olhos congelassem uma imagem por eternos segundos,
Assemelha-se aos sonhos fujões que deixam boas recordações
mas não sabemos de quê.
São os lábios pregados pela vacilação ou emoção, quiçá contemplação.
É a síntese de toda vida em flashes passados em centésimos,
É a máquina humana, a força de pensar, criar e recriar o mundo
num instante singular de estar parado, ocioso... Imaginando, imaginando...

terça-feira, 2 de março de 2010

Doce rotina de amar.

Batimento acelerado mãos trêmulas corpo febril lábios frios e ressecados toque na nuca arrepio na pele mamilos rijos delírio gemido irracionalidade sussuros gritos grito uníssono suspiro forte calmaria ficar juntos acolhimento bem-querer relaxamento total sono amanheceu mais um dia.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Xiiiii! Silêncio! Há espetáculos que exigem apenas a contemplação, não têm explicação.

Tamanha é a dificuldade para escrever. Vago entre inúmeros assuntos, diversas são idéias, no entanto a mente é bloqueada por um cansaço inexplicável, como se pôr palavras para fora da mente fosse o maior dos esforços, pode ser até que seja; pode ser que a mediocridade dos meus textos esbarrem no meu descontentamento, fazendo do mais filosófico tema um amontoado de palavras infelizes, merecedoras de um destino melhor.

Tenho, como é notório, motivos para me calar, guardar as minhas impressões no anonimato da minha timidez. Mas como fazer isso, se escrever, seja lá o que for, é o que me faz sentir vivo, meus membros pulsam quando digito, excita-me buscar vocábulos em lugares onde eles relutam habitar. Escrever é, para mim, conhecer o corpo de uma nova amante, desvendar seus segredos da libido, fazer aflorar todas as zonas erógenas, levá-la ao orgasmo com candura, amor, tesão, luxúria, santidade... Isso é escrever.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Desabafo derradeiro

Inventei, ao longo da vida, uma felicidade forjada na conveniência, deixei um pedaço de mim aprisionado no passado, tentando resgatar o que há muito se perdeu. Agora, tenho o tempo engolindo tudo, o passado, o não-concluído; pago o preço da covardia, do excesso de zelo... Pago o alto valor de não ousar.
Sou feliz por obrigação, não por vocação, por mérito... Sou o sorriso impuro imposto pelos padrões sociais. No mais, vivo sedento de passado.