terça-feira, 28 de abril de 2009

Pensa que está livre?

Morresse numa manhã ensolarada e bela como a de hoje, seria diferente de morrer num dia nublado, cheio de sombra? Talvez fosse mais aceitável, visto que os dias cinza-escuro cor-de-chumbo contemplam deveras a morte. Independente de dias bonitos e feios, qual seria a outra certeza senão a morte, essa verdade incontestável, porém desagradável, tema repugnante àqueles que se dizem felizes e amantes da vida? Tolos! Na verdade são covardes, incapazes de amarem a vida, uma vez que esse temor da morte nada mais indica que o maior dos egoísmos, a sede pela eternidade impossível; se fosse, de fato, amantes da vida, entenderiam o quão a morte é vital para continuidade da existência humana, em outras palavras, a morte é a mãe da vida. Temos noção da vida porque sabemos que um dia iremos morrer, caso não fosse assim, jamais valorizaríamos o fim material.
Erga-se uma estátua em homenagem a Thanatos, a verdadeira e única democracia, a justiça social por excelência...Não, não pensem que tenho tendências suicidas ou coisa que o valha, vejo apenas a verdade evitada, não tenho ilusões descabidas, sei que morrerei , e isso jamais me entristecerá. Como dizia, a morte é a verdadeira democracia, está acima da vida, é a vingança dos menos privilegiados, pois somos colocados em igualdade de condições quando morremos, não há reis, príncipes, ricos e pobres que tenham tratamento diferenciado...Na morte o homem é apenas um homem, ou melhor, um cadáver.
Quando nascemos temos, alguns, o privilégio de um leito confortável, de um plano social digno, de roupas que aqueçam de verdade ou, muitos outros, nascemos em lugares cuja higiene é desconhecida, depois de nossas mães ficarem horas na fila de um hospital que perde para qualquer clínica veterinária, após essa via-crusis, recebemos um nome e alguns trapos que pertenceram a entes de gerações passadas.
O tempo passa igualmente para todos, envelhecemos da mesma forma, no entanto, para os afortunados, a vida concede possibilidades de cultura, alimentação, emprego e toda sorte de satisfação material, enquanto os viventes miseráveis tentam driblar as adversidades como podem, cultura, só a popular, alimentação, só para sobreviver, emprego, não, trabalho, geralmente braçal e degenerativo, pois a distância de conhecimentos primordiais para o bem-estar social lhe foi imposto pelos amantes incondicionais da vida.
Enfim, ocorre a Verdade verdadeira, aquela que nos coloca os pés no chão e nos diz: “São iguais em tudo, são humanos e daqui nada levarão, misturar-se-ão à lama podre e serão fonte de energia para vermes, depois pó e mais nada”. Eis a voz da verdade, a Morte, a justiça divina, portanto oro por ela, pois é minha por direito.

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